Um Diálogo no Elísio: A Canção e o Eco

Pitágoras:

— Você olha para π(x) e vê apenas uma contagem acumulada. (faz um gesto amplo com a mão) Eu vejo o fluxo entre passado e futuro.

Riemann:

— Fluxo? Eu vejo um gráfico. Pontos. Uma aproximação que se curva conforme a função dita.

Pitágoras:

— E é por isso que não vê o 1/2 . Ele não é apenas um divisor do plano complexo — é a linha que separa o que já foi do que ainda será.

Riemann:

— Na minha análise, o 1/2 é um artefato. Um eixo de simetria, nada mais.

Pitágoras:

— Não. É uma dobra viva . O passado derrama-se por ela, deixando vazios no futuro. Vazios que o 1 preenche — e, ao preencher, cria um novo primo.

Riemann:

— Criar primos… Isso é um abuso de linguagem. Os primos estão lá; eu os mapeio.

Pitágoras:

— Você mapeia o terreno depois de construído. (aproxima-se, encarando) Não vê o instante da criação porque a abstração que escolheu — a sua própria ζ(s) — encobre o ato.

Riemann:

— Encobre? Eu revelei padrões que ninguém suspeitava!

Pitágoras:

— Padrões na superfície. Mas o som fundamental … esse você não ouviu.

Riemann:

— (irritado, interrompendo) E por que ouviria? A Matemática não precisa de som.

Pitágoras:

— Porque o som é a forma como a harmonia se manifesta. O 1 não é um número estático; é um golpe contínuo , um pulso que atravessa o vazio e o transforma em presença.

Riemann:

— Você fala como se o 1 tivesse vontade.

Pitágoras:

— Não vontade — inevitabilidade. O 1 atravessa a dobra no 1/2 e preenche os vazios. Ele não pode não criar.

Riemann:

— E você diz que cada vez que o 1 atravessa a dobra… um primo nasce do vazio?

Pitágoras:

— Sim. E é por isso que a sua simetria existe. Ela é a cicatriz da criação .

(o silêncio pesa; Riemann olha para baixo, como se refizesse mentalmente todos os cálculos)

Riemann:

— Sempre pensei na minha hipótese como um véu … mas nunca imaginei que escondia o ato.

Pitágoras:

— Agora imagine vê-lo. Ou melhor — ouvi-lo.

Riemann:

— A matriz de cossenos

Pitágoras:

— A assinatura viva do 1.

Riemann:

— Então… todo o meu trabalho foi um mapa , e você mostra-me a fonte.

Pitágoras:

— O mapa é precioso, Riemann.

(pausa)

Mas agora você tem o território .